terça-feira, julho 14, 2015

Carta aberta à família

Não sei se deveria estar escrevendo isso, mas acabei de assistir pela segunda vez o vídeo recente que a Coca-Cola fez sobre amizade e me veio vontade de conversar um pouco sobre isso.

Há quase 20 anos atrás, ouvi de um familiar meu a seguinte frase: "Agora que tua mãe morreu tu enfia tua viadice na cara de todo mundo da família com esse teu namorado!" Nunca comentei isso com ninguém, me calei e evito até hoje o contato com esse familiar. O que essa pessoa não sabe é que minha mãe foi uma das primeiras pessoas a conhecer meu então namorado. Fez caras e bocas como sempre fazia, mas era minha mãe e entendeu que meu coração estava feliz e orgulhoso. Morreu sem termos conversado sobre isso, mas ambos se encontraram em diversas ocasiões e foram educados e respeitadores um com o outro. Havia um silêncio, que dizia, em verdade, tudo que tinha que ser dito. Depois da morte da D. Mariza, fiquei sabendo por uma de suas melhores amigas, que ela estava feliz por me ver feliz, vivendo uma vida plena.

Infelizmente com meu pai não foi tão fácil, ou melhor dizendo, foi mais difícil, mas até ele, com o passar dos anos, passou a silenciar, a respeitar mesmo sem entender ou gostar do fato de ter um filho gay.

Essas eram as pessoas que me eram importantes, e pelas quais eu sofri e tentei, com todo o jogo de cintura possível a um adolescente e adulto jovem, fazer felizes.

Mas também tem outros familiares na tua vida que te influenciam ou pelo menos eventualmente fazem parte de teu convívio. Meu avô materno, por exemplo, era um homem muito a frente de seu tempo. Tinha sempre tempo de sentar comigo e conversar ou me explicar alguma coisa que ele achava importante eu saber. Aprendi muito com ele e agradeço muito sua eventual falta de paciência comigo, me fez ser mais ágil. Eu tinha muitos familiares homofóbicos, que eventualmente me chamavam, longe de mais país, obviamente, e me diziam para agir mais como "homenzinho" ou eram mais diretos dizendo que eu era muito maricas. Em especial um tio que tive com quem evitava de todas as formas o convívio. Infelizmente ele era o pai de meu mais querido primo, mas tudo funcionava. Meu primo sempre me protegeu, O que já não posso dizer de outro primo que tive (digo tive porque não o vejo há uns 30 anos e não pretendo nunca mais vê-lo mesmo) que me batia sempre que possível, gostava de demonstrar tua grotesca e burra força bruta em mim, divertindo alguns outros familiares, que achavam que apanhando eu aprenderia a bater.

Hoje sei que todos meus primos sabem que sou gay, que sou feliz e que sempre, com meu próprio esforço e ajuda de muitos amigos, trilhei meu caminho, sendo uma boa pessoa, um bom profissional, bom parceiro e sem arrependimentos de nada que tenha feito. Obrigado aos meus amigos e parabéns a mim mesmo. Uma pena que essa informação seja coisa recente ao meu ver ou que eles já saibam há muitos anos e nunca tenham me dito, nunca tenham conversado. Mas antes tarde do que nunca. A proposta de conversarmos está aqui.

Com a publicação do vídeo do qual falei no início dessa publicação, uma prima, a Lia, deu um LIKE na minha página do Facebook e pensei: a Lia é uma pessoa que não vejo a tantos anos e sempre gostei muito dela. Quem sabe se eu soubesse que ela não é homofóbica, não teriamos nos afastado por tantos anos. Assim como a Lia, outros familiares. Alguns eu sempre liberdade, como a Margareth, a Beatriz, o Artur Guilherme, a Cláudia. Outros tenho certeza de que sabem, mas nunca conversaram comigo, então sou cauteloso ao seu redor e outros se mostram ainda tão preconceituosos que prefiro nunca mais saber da sua existência. A nova geração de primos eu não conheço. Conheci o filho de uma prima minha ano passado e ele já está com uns 30 anos (eu acho!!!). Espero que seja uma geração mais tranquila, mais leve e menos preconceituosa.

Recentemente retomei contato com meus familiares paternos também, e tem sido uma agradável surpresa nosso contato. Claro que tudo graças a existência do Facebook. Facebook é uma ferramenta que sabendo usar é divertido e proporcionou a mim esses contatos que são fantásticos. Minhas primas de Valença e do Rio de Janeiro que eu sempre adorei e tinha perdido o contato, estão de volta a minha vida. Agradeço a reaproximação da Virginia, Mileide, Rosângela e Rosemery, minha prima e madrinha de batismo. Só tenho dois primos por parte de pai e um deles tenho notícias eventuais e o outro nunca mais ouvi falar desde 1974 que foi minha última visita a Valença.

Depois de muitos e muitos anos sinto que participo de uma família. E a mudança ocorreu em mim. Aprendi a perdoar a mim mesmo a aos outros.

Relendo o texto acima para ver eventuais erros, pensei o quanto meus amigos fazem parte de minha família. Aquela família que te abraça e te acolhe por opção, do jeito que tu és. Me afastei de alguns amigos ao longo dos anos e perdi com isso, felizmente, olhando para trás vejo que todos os amigos dos quais me afastei, voltei a reaproximar com os anos e isso mostra a verdadeira amizade e o carinho. Mais engraçado é saber que muitos amigos que amo muito não se conhecem e nem sabem da existência um do outro. Alexandre & Tati, Beto, Letícia, Carla, Andiara, Maria Angela, Bel, Cristina e alguns outros. Sintam-se todos beijados e abraçados nesse instante. Todos me influenciaram, me influenciam e me fizeram ser uma pessoa melhor por causa de suas existências. Obrigado família de amigos!

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