domingo, julho 29, 2007

Take 4 - Tokyo, Nittaidai, Setagaya-Ku, Shibuya...

De volta a Tokyo e a Universidade...


Fui muito bem recebido na Nittaidai. Meu orientador, Prof. Dr. Koichi Hirota, imediatamente me apresentou a todos que trabalhavam no laboratório e me pediu que viesse todos os dias ao lab para ver se tinha algo a ser feito, alguém a quem ajudar ou simplesmente aprender um pouco de Japonês com meus colegas. Assim o fiz por um tempo, logo em seguida, mais entrosado com a cidade, resolvi conhecer melhor a vida em Tokyo, e assim o fiz. Continuava indo a Universidade, nunca faltei mas dava uma "passadinha" e logo em seguida... Shibuya ou Shinjuku. Acabei ficando "intimo" das minúsculas ruas de Shibuya, onde tinha absolutamente de tudo para fazer, o mundo aos meus pés. Todo tipo de loja, todo tipo de restaurante, bares, pessoas, enfim, o ponto mais cosmopolita da super metrópole que é Tokyo.


Não demorou muito para meu Orientador perceber o que estava acontecendo e me chamou um dia de manhã na sala dele. Lá chegando ele me perguntou diretamente: "Queres voltar para o Brasil amanhã? Se não quiseres voltar tá aqui o que tu tens que fazer!" e me deu uma lista de coisas que eu já deveria ter feito e estava com tudo atrasado. Ao mesmo tempo, apesar do "xixi" que eu ouvi, ele disse que entendia o que estava acontecendo e que iria me ajudar. E foi o que nós fizemos. Trabalhei muito a partir de então, muito mesmo. Foi quando decidi realmente fazer parte de tudo aquilo que estava acontecendo e minha vida mudou, 180 graus. melhorou muito mesmo. Passaram-se as crises de auto-comiseração e meu japonês deslanchou ao ponto de, quando falavam comigo ao telefone não sabiam se eu era nativo ou não. Fiquei muito orgulhoso de mim.


Tokyo foi maravilhoso, não tem como eu descrever ou contar tudo o que aconteceu ao longo dos 3 anos que passei naquela cidade. Mas fique certo de que aos poucos muito do que aconteceu por lá comigo vai saindo.


Fui influenciado para sempre pelo que vivi lá. Mudei. Sou o que sou hoje porque estive em Tokyo e porque aprendi comigo mesmo lá e tive o mais importante... Orientação. Com o Hirota Sensei foi que aprendi o que é realmente orientar. Homem austéro, absolutamente sem muito bom humor, mas sabia o que dizia e até mesmo sorria vez que outra. Até hoje temos contato e é uma das pessoas que mais respeito e prezo neste planeta.


Em novembro de 1991, já terminando meu mestrado, levei o texto de minha tese para o Prof. Hirota lê-lo. No dia seguinte ele me chamou cedo a sua sala me dizendo: "Seria melhor reescrever todo o texto. Está fraco em conteúdo e os resultados estão mal dispostos, a discussão não está adequadamente fundamentada, a bibliografia está fora do padrão e quero que tu faças mais um experimento para complementar o que tens de dados das proteínas!" Bom, não preciso dizer que entrei em pânico. Tinha até o final de Dezembro para entregar tudo, o texto definitivo e defenderia em Fevereiro de 1992. Posso dizer claramente que não lembro de nada desde o dia em que falei com o meu orientador até o dia em que entreguei o texto final, a não ser a última semana antes disso.


O Kuroiwa san, um dos meus melhores amigos estava na mesma situação. Ele então passou a dormir no lab para não perder tempo de ir e voltar até sua casa que era em Yokohama e eu decidi fazer o mesmo para apoiar a ele e ter o apoio dele e do resto do pessoal do laboratório. Faltando cinco dias para a entrega do texto final, eu e Kuroiwa fomos chamados a sala do Prof. Hirota, que leu nosso trabalho e disse: "Melhorou, mas quero novos gráficos, novas tabelas com os dados dispostos de forma diferente e a discussão deve ser reescrita nas últimas 13 páginas." Foi uma lucura total. Eu passei exatamente cinco dias sem dormir nem comer, sustentado por latas e mais latas diárias de coca-cola. O Kuroiwa san chegou a passar mal e no último dia estava vendo pessoas que não existiam dentro da sala. Acho que nunca estive tão cansado. Tudo depois disso passou a ser tranquilo. No dia da entrega, levamos a apreciação do Dr. Hirota e ele disse: "Pode entregar!" Uau! Foi o máximo! Eu e Kuroiwa fomos para meu dormitório, pois ele não tinha condições físicas, nem mentais de voltar para casa. Assistimos juntos ao filme "Dança com Lobos"de Kevin Costner e passamos a nos chamar de Tatanka 1 e Tatanka 2. Dormimos por quase 24 horas depois disso.




Nós dois apresentamos nossos trabalhos dia 10 de Fevereiro de 1992. Foi muito legal.




Fiz a apresentação toda em japonês, obviamente depois de muito ensaio com meu orientador e meus amigos. Foi DEZ. Só teve uma pergunta de um membro da banca, que já era prevista, já que ele queria o posto do meu orientador que era o Diretor de Pos-Graduação da Universidade porque ele era o melhor. E acredite, por mais política que se faça na universidade no Japão, é sempre o melhor e mais qualificado de fica com o posto, ao contrário do que se observa aqui no Brasil, basta olhar para a UFRGS, ESEF e muitos outros exemplos para entender! hahaha! Coitados.



Dr. Koichi Hirota, Borg e sua esposa em Tokyo. E eu... Nesse dia fiz a tradução simultânea da palestra do Borg de Inglês para Japonês. Foi bem legal e bem difícil.

Eu fazendo minha defesa de mestrado. Fev, 1992.


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